Foi a Ebony que disse, e a frase ficou. Grudada em mim como um pensamento antigo que alguém finalmente teve coragem de colocar em voz alta.
Dizer que me sinto extraordinária é quase tão íntimo quanto falar da infância, ou de um sonho recorrente que ninguém entenderia. Não é que eu não saiba disso, é que ninguém me ensinou o que fazer com essa informação.
Virginia Woolf diria que uma mulher precisa de um quarto só seu. Eu acrescentaria: e de silêncio suficiente para admitir que pensa coisas lindas quando ninguém está olhando.
Hoje mesmo, minha cabeça virou um pequeno planeta em órbita. Pensei teorias sobre saudade enquanto lavava um copo, montei argumentos inteiros sobre o tempo dentro de uma sala lotada.
E tudo isso, sem plateia.
Hoje pensei em montagem mental: minha mente costurando constelações de ideias, misturando trivialidades com perguntas raras. E no meio disso tudo, me vi como uma biblioteca ambulante, cheia de cantos secretos.
Eu escrevo pra não esquecer o que pensei enquanto esperava o arroz ficar pronto.
Tem dias em que ser extraordinária é só isso: não deixar que suas ideias evaporem com o vapor da chaleira.
Tem algo de cômico nisso tudo também. Me pego me elogiando mentalmente no banheiro como quem se desculpa com o espelho.
Se hoje você se sente mais do que esperava — ou menos do que sabe — receba isso como um poema interno: você nada prometeu, mas fez acontecer.
Na forma como você atravessa uma conversa entediante sem deixar a própria cabeça morrer.
Frida Kahlo pintava a dor, mas também o pensamento. O que é um autorretrato senão a maneira mais sofisticada de dizer “eu existo, sim”?
Mas porque minha mente é uma bagunça criativa, uma festa de questionamentos, um cenário de filme francês com trilha instrumental e a protagonista sozinha, andando pela rua, com um casaco velho e muita coisa por dentro.
Mas por agora, deixo aqui essa frase, como quem escreve na contracapa de um caderno:
“Me sinto extraordinária, dona de uma mente brilhante.”Sem aspas, sem medo, sem aplausos.
Tem dias que eu também acho.
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